Bispo critica na Semana Social católica modelo económico “indecente”
O presidente da Comissão Episcopal de Pastoral Social (CEAS), D. Carlos Azevedo, criticou esta manhã o actual modelo económico “injusto, indecente, desigual, desproporcionado e agrava a pobreza e a exclusão social
Falando na sessão de abertura da Semana de Pastoral Social católica, dedicada ao tema do desenvolvimento solidário, Carlos Azevedo teceu duros reparos à situação económica e social, dizendo que o modelo económico “tem de ser revisto”. E acrescentou: “Há uma cultura der individualismo possessivo e de satisfação exacerbada, a contrariar.”
Perante cerca de 500 participantes na iniciativa, o bispo auxiliar de Lisboa admitiu que a iniciativa da CEAS não pretende “fazer autópsia dos processos económicos e políticos, mas olhar de modo novo, crítico e exigente para o mundo económico e social”.
Carlos Azevedo considerou ainda que a Igreja não ganha nada com “medidas legislativas que favoreçam” os valores católicos, se não se recuperar “a dimensão religiosa” e a “crise da fé”. E afirmou: “Como se tem verificado, a secularização não baixa com políticos de centro-direita. Os princípios morais têm de estar inscritos no coração das pessoas.”
Dizendo que os cristãos não devem abdicar da intervenção política, Carlos Azevedo acrescentou que os católicos são chamados a “reinventar o espaço público como lugar de deliberação e de diálogo em comum”.
O presidente da CEPS dirigiu-se também às instituições sociais católicas, afirmando que estas não são “meras agências de serviços”. Antes “têm, uma função ética, política e relacional”. Os cristãos e as suas instituições sociais terão que ser “os primeiros praticantes de um modelo nascido da lógica do dom e marcado pela verdade”. E acrescentou que os participantes na Semana de Pastoral Social não pretendem “dar recados ao Governo”, antes “fazer da caridade uma dimensão” da missão cristã na sociedade.
“As consequências sociais da crise vão continuar a afectar os mais pobres durante vários anos, de forma mais intensa”, acrescentou o bispo. “Estamos convencidos de que a saída da crise não a sustentaremos com os mesmos processos que a produziram.”
O diagnóstico do bispo não é meigo: “O corpo social está seriamente atingido e ferido. Crescem a incerteza e insegurança do emprego e angústia dois desempregados, aflição dos pobres, a solidão dos abandonados, sofrimento dos considerados supérfluos. Nem o futebol nem qualquer entretenimento podem dissimular a crise de valores e de sentido.”
Fonte: Jornal Público de 14 de Setembro
Por António Marujo