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O Blog da Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras

As últimas notícias sobre o Lar de Nossa Senhora da Misericórdia, Clínica Domus Misericordiae, ERPI, Creche, Jardim de Infância, CATL, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário

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Idália Moniz, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação - Realça a responsabilidade social do Estado

 

Em entrevista à revista País Positivo, Idália Moniz, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, analisou o papel do Estado na criação de respostas sociais eficazes e capazes de beneficiar a população mais carenciada e desprotegida.

 

Recentemente, afirmou que a verdadeira responsabilidade social do Estado está reflectida nos acordos de cooperação estabelecidos com as instituições de solidariedade social. Neste âmbito, aponte as principais medidas do actual governo para atingir este patamar de responsabilidade social.


O modelo europeu de Estado Social caracteriza-se pelo princípio do Estado se responsabilizar pelo bem-estar dos cidadãos, em particular dos mais vulneráveis e, nessa perspectiva, procurar garantir o acesso dos cidadãos aos equipamentos e respostas sociais necessárias.

 

Em Portugal esta responsabilidade social é assumida pelo Estado em estreita parceria com as Instituições de Solidariedade Social e a sua trave mestra são os acordos de cooperação, através dos quais o Estado financia estas Instituições, apoiando simultaneamente de forma indirecta as famílias. Só entendemos, verdadeiramente, estes apoios, quando necessitamos de procurar uma resposta social para um familiar e comparamos o seu custo no mercado privado com o custo praticado no sector solidário apoiado pelo Estado.

 

O Orçamento da Cooperação em 2009 com as mais de 3.600 Instituições de Solidariedade superou os mil milhões de euros e produziu efeitos directos e indirectos nas famílias, não apenas pela comparticipação das respostas sociais, mas também porque estas Instituições privadas empregam mais de 200 mil trabalhadores e dão um importante contributo para o desenvolvimento local.

 

Em primeiro lugar, naturalmente, pretendemos o alargamento e o reforço da rede de equipamentos e respostas sociais. Em segundo lugar, a expansão da rede de equipamentos e serviços é acompanhada por uma preocupação com a utilização criteriosa dos recursos existentes.

 

O Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) foi criado em 2006, para relançar o investimento em equipamentos sociais para as crianças, os idosos e as pessoas com Deficiência, de forma planificada; e para responder às necessidades identificadas das famílias, através da selecção prioritária de projectos inseridos em territórios com taxas de cobertura mais baixas e mais vulneráveis à exclusão social.

 

O PARES tem uma dotação pública de 212 milhões de euros, dando origem a 1058 respostas sociais que abrangem 38331 utentes e criam 9664 postos de trabalho directos.

 

A acção social é um dos importantes alicerces da sociedade moderna e nesse âmbito o trabalho realizado pelas instituições de solidariedade social é fundamental para uma maior justiça e integração dos mais desfavorecidos, mas muitas são as que enfrentam dificuldades no desenvolvimento da sua missão.

Nesse sentido, quais têm sido as principais medidas do Estado para apoiar estas instituições na sua missão?

 

A colaboração entre o Estado e as instituições da economia solidária, ou se preferirem do 3º sector, estende-se a domínios tão vastos como a prestação de serviços sociais de proximidade aos cidadãos, a promoção de projectos de desenvolvimento local e a inclusão de pessoas em situação de pobreza e de exclusão.

 

Com o objectivo de garantirem a existência de serviços sociais de qualidade e o acesso dos cidadãos mais desfavorecidos a esses serviços continua em implementação o Programa de Cooperação para o Desenvolvimento da Qualidade das respostas sociais, que resultou de um acordo entre o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social e as três uniões representativas das Instituições de SolidariedadeEstado e Instituições de Solidariedade estão empenhados em assumir este desafio para a mudança relativamente à capacidade de promover a qualidade dos equipamentos e serviços que beneficiam as diferentes comunidades e famílias.

 

Outro exemplo recente de cooperação frutuosa entre o Estado, incluindo as Câmaras Municipais, e as Instituições de Solidariedade é o Programa Contratos Locais de Desenvolvimento Social (CLDS), que visam promover a inclusão social dos cidadãos, de forma multisectorial e integrada, através de acções a executar em parceria nos domínios do emprego, formação e qualificação, intervenção familiar e parental, capacitação da comunidade e das instituições, informação e acessibilidade, privilegiando territórios identificados como mais vulneráveis.

 

Segundo o recente relatório, no ano passado, as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) sinalizaram quase 30 mil crianças em risco. Como interpreta este facto e quais as medidas que podem ser adoptadas para combater este flagelo?

 

As CPCJ não sinalizam situações de perigo, intervêm em situações de perigo. Flagelo seria não intervir em situações de perigo! São as entidades que existem na comunidade, as autoridades judiciárias e os cidadãos que sinalizam situações de perigo às CPCJ. Cabe a estas confirmar a existência dessas situações e aplicar uma medida ou infirmá-las e arquivar o processo. Do total de medidas aplicadas pelas CPCJ em 2009, 90,7 por cento corresponderam a Medidas em Meio natural de Vida, destacando-se 76,6 por cento destas em Apoio junto dos Pais. Com o objectivo de promover o exercício de uma parentalidade mais responsável e positiva, têm sido desenvolvidas acções de formação em educação parental, destinadas a famílias com crianças em perigo, que resultam de um rigoroso processo de definição de conteúdos e metodologias de intervenção e de avaliação, feito em conjunto com cinco Universidades portuguesas.

 

No final do ano passado, no âmbito da Conferência Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, declarou que em Portugal, a evolução e salvaguarda dos Direitos das Pessoas com Deficiências e Incapacidade, se enquadra positivamente nas grandes orientações e princípios de política, quer do Programa do XVIIII Governo Constitucional, quer no ordenamento jurídico e nas práticas institucionais. Assim sendo, realce os principais aspectos do trabalho desenvolvido pelo Estado neste campo.

 

Após a adopção do primeiro Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiência ou Incapacidade (PAIPDI), que vigorou em 2006-2009 e a entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, está a ser ultimada uma segunda etapa de definição estratégica das políticas para a deficiência, baseada numa consulta à Sociedade Civil e às instituições públicas. O PAIPDI originou, pela primeira vez na história das políticas públicas para a deficiência, um forte compromisso de participação intersectorial ou interministerial.

 

Uma área em que registámos avanços significativos foi a dinamização de políticas locais de inclusão para as pessoas com deficiência, através da criação de serviços de informação e mediação para pessoas com deficiência em 30 autarquias. Os novos planos municipais de acessibilidade financiados pelo POPH/QREN têm-se também revelado importantes instrumentos de desenvolvimento local integrado de qualificação dos espaços públicos.

 

Dentro deste âmbito, criámos o Programa RAMPA – o Regime de Apoio aos Municípios para a Acessibilidade, para dar continuidade a esta tipologia de intervenção.

 

Realço ainda medidas como a construção de novos equipamentos sociais ou, entre outras,.a formação de agentes autárquicos e de entidades estratégicas na defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Tendo em conta a importância do acesso universal de todos os cidadãos a todos os bens e serviços existentes nas comunidades, continuamos a reforçar a mensagem que a acessibilidade é uma questão de Direitos Humanos e por isso mesmo considero fundamental que haja por parte dos diferentes agentes uma capacidade de planeamento que permita intervir na medida das prioridades definidas e das diferentes disponibilidades, nomeadamente as orçamentais para universalizar esse mesmo acesso.

 

No âmbito do Programa Operacional Potencial Humano (POPH), prevê-se a criação de novos equipamentos sociais a par de mais postos de trabalho. Sendo este um importante passo em frente na acção social, importa ainda referir qual será a evolução do trabalho do Governo no campo da solidariedade social.

 

O POPH, tem uma dotação pública de 152,7 milhões de euros, dando origem a 392 respostas sociais que abrangerão 9.578 utentes e criarão 4.424 postos de trabalho directosO PARES, aliado ao POPH, vem permitir um aumento significativo, e sem paralelo, das respostas sociais.

 

Se por exemplo avaliarmos os equipamentos para as Pessoas com Deficiência, teremos após a conclusão de todas as respostas aprovadas através do PARES e do POPH, terminadas as obras em curso, um grande impacto na sua qualidade de vida e das suas famílias.

 

Definimos no início da anterior legislatura, para as respostas ocupacionais, um aumento de 10 por cento no número de vagas. Com o PARES e o POPH o aumento real será de 33 por cento.

 

Definimos no início da anterior legislatura, para as respostas residenciais, um aumento de 15 por cento no número de vagas. Com o PARES e o POPH chegará aos 89 por cento.

 

Definimos no início da anterior legislatura, para as respostas de apoio domiciliário, um aumento de 30 por cento no número de vagas. Com o PARES e o POPH irá atingir mais 154 por cento. Apesar das dificuldades criadas pela presente conjuntura económica, Portugal possui medidas de política para fazer face ao presente contexto, sendo o Rendimento Social de Inserção uma das mais importantes, como vem sublinhando a Comissão Europeia, sem prejuízo de necessitarmos de inovar e aprofundar algumas medidas

 

.Gostaria por último de salientar que todos os países enfrentam um problema estrutural, decorrente do envelhecimento populacional, do qual decorre a necessidade de tomar medidas de fundo para garantir o futuro dos seus sistemas de protecção social. Na Europa, Portugal foi um dos países que reagiu de forma mais rápida e corajosa em domínios como a convergência do regime da função pública em relação ao regime geral da segurança social, a idade da reforma e a fórmula para o cálculo das pensões, sendo estas reformas concertadas com os parceiros sociais.

 

É indispensável para o nosso futuro que este processo de reforma continue a ser consolidado e que continuemos a trabalhar para que Portugal não prive as famílias da acção de um Estado socialmente responsável e solidário.

 

Publicado na Revista – País Positivo

 

 

As Misericórdias e a Saúde

As Misericórdias nasceram no seio das comunidades onde estão inseridas e tiveram a sua motivação nas dificuldades do segmento mais carenciado da sua população.


Os irmãos que lhes dão vida estão ligados às comunidades por nascimento, pela residência, pela actividade profissional ou por qualquer outra afinidade que fazem despertar neles sentimentos de solidariedade e de coesão com elas no seu conjunto. É nestes alicerces firmes que assentam as Misericórdias, e neles se encontra a explicação da sua longevidade aos princípios orientadores que inspiraram os seus fundadores – as Obras de Misericórdia.


Foi precisamente a Obra de Misericórdia que manda << Curar os enfermos >> a que deu mais visibilidade às Misericórdias. Durante séculos e até há bem poucos anos a assistência a doentes necessitados esteve inteiramente a cargo destas Instituições, sem qualquer apoio do Estado e contando apenas com o espírito de caridade de benfeitores. Daí a forte tradição hospitalar das Misericórdias de todo o país. Em cada terra onde se fundou uma Misericórdia, e quase não há vila ou cidade portuguesa onde isso não tenha acontecido, há um hospital que a ela pertence. Veja-se o caso de Vila do Conde e, se quisermos um exemplo melhor que nos convença, atentemos ao Hospital de Santo António, no Porto, que pertence à Misericórdia dessa cidade, pois foi por ela mandado construir. Essa longa tradição na área da saúde deu às Misericórdias vocação e experiência que devem ser aproveitadas para complementar o Serviço Nacional de Saúde. E apresentam-se hoje condições favoráveis a que isso aconteça, não para a sustentação das Misericórdias, como veremos pelo que a seguir se vai dizer.


O Estado vai sentindo a necessidade de concentração de certos, serviços de saúde muito especializados e de custos muito elevados. Com a concentração desses serviços outros são naturalmente afastados das populações. Enquanto se torna aconselhável a concentração desses serviços, outros há que devem ser desconcentrados para evitar o incómodo e a despesa das deslocações dos doentes e a sobrecarga dos hospitais centrais. É o caso dos exames de diagnóstico, das análises clínicas, dos serviços de enfermagem, etc. Aqui está um espaço que as Misericórdias poderão ocupar, complementando o Serviço Nacional de Saúde, oferecendo a comodidade e o baixo custo da proximidade.


A proximidade não é apenas encurtamento de espaço físico: proporciona também o contacto com pessoas conhecidas e com ambientes de trabalho menos burocratizados por serem de menores dimensões. O doente sente-se mais seguro por haver sempre alguém que conhece, dentro dos serviços ou mesmo na sala de espera, e por ter mais probabilidade de serem ouvidas as suas reclamações no caso de julgar não ser bem atendido. São vantagens psicológicas que confortam os enfermos fragilizados pelas doenças que os atormentam.


Há um outro aspecto não menos justificativo da aposta das Misericórdias na área da Saúde.
Após a estatização do Serviço de Saúde, as Misericórdias ficaram praticamente sem actividade e investiram na área social. As pessoas acolhidas nos centros (idosos, dependentes, deficientes, utentes em recuperação) são as que mais precisam dos serviços de Saúde. Imagine-se a incomodidade que será para as famílias e os utentes desses centros, quando estes precisam de se deslocar aos serviços hospitalares distantes, sujeitos ainda a demoras de atendimento muito grandes. Esta complementaridade de serviços sociais e de saúde aconselha também o investimento das Misericórdias na área da Saúde.
As Misericórdias, mais que qualquer serviço de saúde do Estado, poderão moldar o seu horário de funcionamento às conveniências das famílias. Os serviços de saúde da Misericórdia de Vila do Conde, aos sábados, estão abertos ao público e, aos domingos, funcionam os serviços de atendimento permanente, radiografia, mamografia, densitometria, tac e ressonância magnética. As pessoas começaram a manifestar-se e a Misericórdia foi ao encontro das suas conveniências. Nos serviços do Estado não existe essa flexibilidade.


Finalmente, as Misericórdias poderão desempenhar um papel importante na contenção dos custos da saúde porque não têm fins lucrativos. Além de que os saldos de gestão positivos são reinvestidos na saúde ou, em alternativa, na área social da comunidade. Poderão, assim, ser um elemento de moderação de custos, se colocado entre o serviço público do Estado com grande dificuldade de controlo, e o serviço privado que visa o lucro.

 

Artigo de opinião por:

Arlindo Maia, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde

Publicado na Revista – País Positivo