Igreja da Misericórdia
A Santa Casa da Misericórdia de Torres Vedras foi fundada a 26 de Julho de 1520 com os rendimentos das casas que a coroa possuía na vila e os bens de outras instituições de assistência existentes na vila (Hospital do Santo Espírito, Confraria das Ovelhas Pobres e Hospital de S. Gião - ou S. Julião, ou Confraria dos Sapateiros).
A sua fundação vem na sequência da necessidade sentida, desde os finais do século XV, em ordenar e unificar a assistência, que se iniciou quando D. João II lançou a primeira pedra do Hospital de Todos os Santos, reunindo para esse fim os rendimentos de vários estabelecimentos pios, obra continuada por sua mulher D. Leonor, quando, já viúva, fundou a Misericórdia de Lisboa em Agosto de 1498.
Sede antiga
Entrada pela porta grande com o brasão da instituição
Construída nas instalações do Hospital do Santo Espírito; aí se instalou o Hospital da Misericórdia, com duas salas para ambos os sexos e uma capela, com um rendimento de 6 moios de trigo, 3 de cevada, 36 almudes de vinho, 3 potes de azeite, 56 galinhas e frangos, um carneiro, 13.888 reis em dinheiro e 2 ovos, além de todas as sobras dos restantes Hospitais e Confrarias.
Estava ainda a Santa Casa autorizada a ter Mamposteiros ou arrecadador de esmolas em todas as freguesias.
Em 1767 foi aí construída uma enfermaria de mulheres.
Autorizou-se, em 1795, a criação de uma "botica" no hospital, só concretizada em 1814.
O edifício foi acrescentado em 1796 com a compra de uma casa nobre a sul, alargando as enfermarias para quatro.
O Hospital funcionou aí até à inauguração do Novo Hospital da Misericórdia, no local do actual Hospital Distrital, em 18 de Julho de 1943, com a presença do então Presidente da república Óscar Carmona.
Nesse edifício estiveram instalados o Museu Municipal e a Biblioteca Municipal de 1944 a 1989.
Igreja
A sua construção teve início a 19 de Maio de 1681, concluindo-se em 1710, ano em que foi benzida em acto solene, realizado a 6 de Setembro desse ano, presidido pelo Bispo de Tagaste, o torriense D. Manuel da Silva Francês.
Entra-se pelo adro que serviu de cemitério, antes de a Santa Casa ter cemitério pegado para norte, e talvez para poente. O Pórtico tem as armas reais do século XVII, e a porta é datada de 1718.
A igreja é de uma nave coberta por abóbada de berço, onde estão pintadas as armas reais, com a cruz da ordem de Cristo (típico do século XVIII).
Algumas características:
- O uso de madeiras exóticas no coro alto, no cadeiral da mesa da irmandade e na porta (teia de pau preto).
- Uso de mármores de vários tipos, típicos do século XVII.
Azulejos
- No cruzeiro, lado sul - Pietá (deposição da cruz), lado norte – Nº. Sr.ª. da Misericórdia;
- No corredor: painel de Azulejos do século XVII, com motivos profanos (painéis compósitos, cenas da vida campestre, pastoril, marítima, palaciana e ambientes e paisagens chinesas, persas, indianas, árabes, à mistura com florestas, ruínas, rios, prados e rebanhos)
Altar-mor
- Ladeado à esquerda (lado do Evangelho) pelo altar do crucifixo (tendo por baixo uma imagem em barro do Senhor Morto, do século XVI), e; à direita (lado da Epístola), pelo altar de Stº. António, com imagem de barro; no retábulo do altar-mor existe uma monumental peça de talha dourada; no centro uma imagem de Nª. Senhora da Misericórdia com o menino (seiscentista).
"Á mão direita da Senhora da Misericórdia, no seu altar de talha dourada, existe um pequeno esconderijo; ali escaparam, como protegidos pelo seu manto piedoso, às prisões de 22 de Dezembro" (de 1846) "alguns patuleias, torrienses de então" (Salinas Calado).
A talha dos três altares é provavelmente do século XVIII.
Um azulejo representando a Nº. Sr.ª da Misericórdia
Vestíbulo
- Por detrás do altar-mor, com azulejos do século XVII, com motivos profanos.
Sacristia
Construída em 1752, por ordem do provedor Nuno da Silva Teles (Tarouca e Alegrete).
Existe um arcaz com pano de fundo e trabalho setecentista em madeira exótica (pau santo), e com uma placa em talha dourada com o Brasão dos Taroucas (da Quinta das Lapas), formado pelo Leão rompante dos Silvas e o Ouro puro dos Menezes.
Nela existe uma tela da "Visitação" e outras telas do século XVIII e bandeira da irmandade no coro alto, atribuída a Josefa d'Òbidos.
Azulejo dos finais do século XVII, princípio do século XVIII com cenas profanas, obra atribuída a Nicolau de Freitas, datados de 1752.
Interessante lavatório em mármore.